NINHO DE HISTÓRIAS

NINHO DE HISTÓRIAS

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A LENDA DO CÉU

Andorinha... andorinha... andorinha voôu... andorinha caiu... curumim carregou.
Piá, não me maltrata não, que eu levo você pro mato, enxergar bichos tamanhos e correr com os guanubis. O menino brincava... andorinha sofria... de um lado pra outro atordoada gemia. Piá, não me maltrata não, que eu levo você pro mar, ver as ondas, ver as praias, ver os peixinhos do mar. O menino malvado machucava e já morre morrendo, a coitada falou:
Piá... não me maltrata não, que eu levo você pro céu e nunca
Ninguém não cansa de ver as coisas no céu, é um sítio bonito mesmo, beradiando o trem de ferro, lá você acha a sua gente, que faz muito que morreu, assegura em minhas penas, vamos embora com Deus.
Andorinha... andorinha... foi voando pro céu... curumim carregou. Assegura bem menino, não tem saudade do mundo, que o mundo é só perdição. Avoôu... avoôu... afinal se chegou. Andorinha desceu, curumim apiou, abriu os olhos e viu, era o céu... O boniteza... tinha espingarda, gangorra... estilingue, tanta surpresas que era mesmo um desperdício. Olha o cachorro jaguar... olha aquela siriema... olha as 3 Marias... dá gente bolear andus, era que nem um pomar, com tanta fruta aromando que o ar ficava... que ficava... bonzinho de respirar.
O menino caminhava pelos postes da linha e lá pelo varjão se ouvia, de uma fordeca xispada, um abôio, tão chorado... que acuava no corpo doce, o sono do brasileiro, tinha mandioca e açaí, mate, cana, arroz, muita banana e feijão, milho, cacau, tinha até pra lá do cercado novo, cheio de taperebas um rancho do nosso povo com seu mastro de São João e no galpão 1 homem comprido de uma quente morenes com a pele bem sapecada pelo sol desse país, tocava uma sanfona, uma mazurca tão linda que se parava um bocado o ouvido cantava ainda, o menino olhou pro homem e disse:
Bastarde tio...
Meu sobrinho... entra no rancho, nossa gente já está lá.
E o menino se rindo, matava a saudade do coração... tomava a benção da mãe... do pai... abraçava o irmão... afinal tocou com o primo que era unha e carne com ele e comovidos os 2 se deram as mãos e foram brincar pra sempre pelos pagos abençoados do meio- dia do céu.
No céu, é sempre meio-dia, não tem noite , não tem doença e nem outra malvadez, a gente vive brincando e não se morre outra vez.
Mário de Andrade

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